Parte I
E coloquei ênfase no
“longa”: começamos lá no teatro épico sem ter muita certeza do que estávamos
fazendo, embriagados pela descoberta desta arte, assim como nosso personagem
principal , Sr. Puntilla, estava embriagado e não sabia o que fazia com o seu
chofer Matt. O Personagem evoluiu ao longo da peça, Pandora ao longo dos anos.
Do Inferno ao Céu, do modernismo e passeios ao Tiete à anacrônica história de
Jesus-Homem contra as ditaduras de épocas e sem esquecer, é claro, os Perus
revoltados, os Perus que fazem greve, que lutam por ideais, Perus que fazem
arte, que amam ou deixam de amar, que são contraditórios, que acordam cedo para
ir trabalhar e voltam para casa para, se
possível, conseguir descansar.
Oito anos de trabalho duro,
intenso, cansativo, discussões e conflitos. Membros antigos saem, novos entram. E chegam os canibais
vegetarianos para devorar as plantas carnívoras que deseja nos devorar. Enfrentá-las
não é tarefa fácil, e é preciso não ser derrotado. Para isso o grupo Pandora
fabrica suas armas.
Parte II
Muito aconteceu nesses 29
dias de Fevereiro, mês de novas brigas, discussões e estreias ou, melhor,
pré-estreia. A nova montagem do grupo Pandora deu um salto de qualidade, subiu em
uma grande plataforma e ‘bora subir
mais. A metáfora da plataforma não é gratuita, existem plataformas no novo
espetáculo. Nem sempre houve, são ideias que vieram a partir de improvisos e
exercícios cênicos e agora estão lá, sustentando os personagens estranhos da
peça: Uma mulher grávida, possivelmente de todas as crianças do mundo, uma
menina sem pais que não sabe o seu lugar no mundo, uma cozinheira exagerada, um
marido que está perdido e sem emprego, um poeta animalizado e esquecido pela
sociedade. Quem sentiria falta dessas pessoas se elas sumissem? Ou será que
elas sumiram e foram para um mesmo plano viver eternamente os mesmos conflitos?
Não sei, essa é uma das muitas interpretações possíveis de um espetáculo sem
interpretação fixa.
Um universo fantástico, um
quadro em movimento na contramão do fim da história. Esses são os elementos de “Canibais
vegetarianos devoram planta carnívora”, o novo espetáculo do grupo Pandora.