12 de março de 2012

A longa viajem (ainda no começo) do Grupo Pandora

Parte I

E coloquei ênfase no “longa”: começamos lá no teatro épico sem ter muita certeza do que estávamos fazendo, embriagados pela descoberta desta arte, assim como nosso personagem principal , Sr. Puntilla, estava embriagado e não sabia o que fazia com o seu chofer Matt. O Personagem evoluiu ao longo da peça, Pandora ao longo dos anos. Do Inferno ao Céu, do modernismo e passeios ao Tiete à anacrônica história de Jesus-Homem contra as ditaduras de épocas e sem esquecer, é claro, os Perus revoltados, os Perus que fazem greve, que lutam por ideais, Perus que fazem arte, que amam ou deixam de amar, que são contraditórios, que acordam cedo para ir trabalhar e voltam para casa para,  se possível, conseguir descansar.
Oito anos de trabalho duro, intenso, cansativo, discussões e conflitos. Membros antigos saem,  novos entram. E chegam os canibais vegetarianos para devorar as plantas carnívoras que deseja nos devorar. Enfrentá-las não é tarefa fácil, e é preciso não ser derrotado. Para isso o grupo Pandora fabrica suas armas.

Parte II
Muito aconteceu nesses 29 dias de Fevereiro, mês de novas brigas, discussões e estreias ou, melhor, pré-estreia. A nova montagem do grupo Pandora deu um salto de qualidade, subiu em uma grande plataforma e ‘bora subir mais. A metáfora da plataforma não é gratuita, existem plataformas no novo espetáculo. Nem sempre houve, são ideias que vieram a partir de improvisos e exercícios cênicos e agora estão lá, sustentando os personagens estranhos da peça: Uma mulher grávida, possivelmente de todas as crianças do mundo, uma menina sem pais que não sabe o seu lugar no mundo, uma cozinheira exagerada, um marido que está perdido e sem emprego,  um poeta animalizado e esquecido pela sociedade. Quem sentiria falta dessas pessoas se elas sumissem? Ou será que elas sumiram e foram para um mesmo plano viver eternamente os mesmos conflitos? Não sei, essa é uma das muitas interpretações possíveis de um espetáculo sem interpretação fixa.
Um universo fantástico, um quadro em movimento na contramão do fim da história. Esses são os elementos de “Canibais vegetarianos devoram planta carnívora”,  o novo espetáculo do grupo Pandora.